Comunicação

CASAMOS!  COLOQUEM OS CINTOS, A VIAGEM VAI COMEÇAR...


                                                                                                            
                                                          Por Edna Palladino 


TEREMOS UM PADRÃO FAMILIAR QUE SEJA NOSSO?
Precisamos de um jeito próprio que é todo nosso quando nos casamos. Não vamos copiar o
jeitão de quem quer que seja para definir a maneira como nos tratamos e lidamos com
 nossas questões, quer seja: da novela, da família “dela” ou “dele” ou dos palpites dos amigos.
 Ao contrário, vamos nos sentar, olhar nos olhos e buscar soluções nada fáceis sobre como
 ajudar nossos filhos a crescer, como pagar nossas contas, como realizar nossos
sonhos – sobre tudo, mas do nosso jeito próprio. 


Claro que vamos precisar de bons conselhos, mas pediremos quando acharmos
necessário e quanto aos bons exemplos gravados em nossa estrutura, precisaremos
aperfeiçoá-los (o Senhor quer fazer coisas novas e maiores, sempre!), e contextualizá-los
 para nossa nova família (às vezes o que foi bom no contexto de uma família, não será no
 contexto de outra). E claro, vamos precisar de oração, mas queremos aprender a orar
por nós mesmos, se desejarem orar por nós, queremos um bom jeito próprio.


TOMAREMOS UMA IMPORTANTE DECISÃO:
O COMPROMISSO MÚTUO:
VAMOS COMPARTILHAR AS IMPORTANTES DECISÕES JUNTOS.
Sabemos que nosso canal de comunicação sofrerá grandes mudanças, não será mais como
quando éramos crianças ou adolescentes em que os interesses eram apenas nosso, 
 precisaremos compartilhar de um outro momento da vida que será em comum
 com o outra pessoa. Nesse outro momento da vida, precisaremos orientar nossas
 forças em parcerias, para chegar a acordos que podem ser bem angustiantes, que
 precisam ser vivenciados com respeito ao outro, sem jamais permitirem-se atitudes de
violências, quer seja física, psicológica ou na fala dura. Cada um precisará compreender
 o outro com suas diferenças, somos diferentes em nossa criação, nossa intelectualidade,
 nossos valores, entre outros,  como condição para alcançar seus objetivos – nada mais
 deverá ser do interesse de uma só pessoa, mas das duas. De agora em
diante nos comprometeremos numa história a dois, teremos que incluir em nossa
relação o “compromisso de compartilhar todas as importantes decisões”.


Teremos que contar com as condições reduzidas no casamento, como a nossa liberdade,
escolhas que antes eram individuas e, nossa tão preciosa independência. Um novo estado de parceria precisa ser abraçado para que os parceiros tomem decisões juntos.  É nesse
 compartilhar que as brigas e criticas se intensificam, os cônjuges se sentem angustiados,
 tomados por um sentimento de impotência como se estivessem num beco sem saída.
Não poderemos mais ter a mesma vida de solteiros, pensando apenas em nosso bem querer.


No entanto, não estamos dizendo que seremos totalmente podados de nossa liberdade pra
sonhar e realizar possíveis sonhos, temos potencial criativo. O que muda no casamento é
 que conversaremos sobre tudo, o que dá pra fazer neste momento e o que terá que
esperar, exemplo: ingressar na Faculdade de Pedagogia, mas as crianças estão muito
pequenas e tomam dos pais muito tempo nesta fase, então vamos combinar que as crianças
 terão que crescer um bocadinho mais e, então com o sacrifício dos dois (pai e mãe) e
 algumas vezes, com a ajuda de nossos parentes mais chegados, o sonho poderá se realizar.
 Neste caso, um dos cônjuges terá que cuidar sozinho da galera à noite enquanto a mãe
 está fora. Mas tal sacrifício faz parte do amor, junto aos elogios e incentivo. 


Convidemos o Espírito Santo para nos orientar em assunto tão importante, pois a questão de gêneros (um é maior que o outro) ou (eu sou responsável apenas por isso e ela por aquilo)
não provém de Deus. Como casais nos colocamos de joelhos perante o Pai até que Cristo
seja gerado em nós, ou seja, a segunda obra depois de nos salvar pela verdade do evangelho,
 será nos ensinar a viver nossos sentimento, valores e emoções segundo a bíblia. Então, o
 amor que vamos oferecer ao cônjuge é  desejoso de fazê-lo feliz e não de que ele me faça
 feliz, numa busca compulsiva unicamente do meu  bem estar. Assim encontraremos
 caminhos alternativos de parcerias, que nascem de boas negociações conjugais. Liberdade
 não caminha sem responsabilidade com outro, um bom ditado é: quem está livre faz o que
 tem pra fazer.


 Enfim, no casamento nos tornamos um ecossistema, uma  rede de interdependências em
 que somos   afetados e afetamos o outro com nosso comportamento. Quando duas pessoas
 se casam, cada uma deverá se comprometer a se modificar internamente e se reorganizar,
como condição para viver uma nova fase da vida a dois.


Em muitas casas, um está cheio de louças pra lavar, guardar as sobras, antecipar coisas
 para o outro dia de manhã, e o outro foi assistir televisão ou entrar na internet. Do tipo que
pensa: já cumpri minha obrigação durante o dia, agora tenho direito ao meu descanso. Isso
 não é família, mas termos a mesma chave de uma casa, onde nos dirigimos pra dormir,
comer, tomar banho.


Diz um teórico sábio: existe uma diferença entre o mundo dos casados e não casados: os
 casados constroem casas e se tornam donos de seu chão, firmam raízes e educam os filhos
 juntos, claro que não sem muita coragem e determinação, mas irão crescer um montão
durante o processo – criam coisas em comum que vão se tornar estabilidade durante o processo da vida. O mundo dos não-casados, ao contrário, é mais livre: sobra espaço para os desejos, para os sonhos e para voltar-se pra si mesmo e bocejar... No entanto, é menos definido e menos seguro.




Isso SE CHAMA   R E S P E I T O
A capacidade de não prejudicar a si mesmo e nem ao outro.
Andarão dois juntos se não houver entre eles acordo? (Amós 3:3)



--------------------------------------------------------------------------



Os Quatro Cavaleiros
 do Apocalipse

                                                                                                                       Por Carlos Catito


Uma figura metafórica sempre tenebrosa e muito utilizada, em especial no cinema, é a dos quatro cavaleiros do Apocalipse, que espalham terror e destruição por onde passam. Aproveitando a metáfora, gostaria de pensar nos quatro principais inimigos de um relacionamento conjugal, ou seja, queria partilhar, a partir de minha experiência clínica de consultório e de minha experiência como palestrante de encontros de casais, quais são os principais elementos que destroem um relacionamento, em especial o relacionamento conjugal.

Creio que o primeiro cavaleiro destruidor dos relacionamentos no casamento é a má comunicação. Embora este tema já tenha sido amplamente explorado por estudiosos da área e até best-seller em prateleiras de livrarias (Homens são de Marte…), ainda continua sendo um dos inimigos principais de um relacionamento.

Paul Watzlawick em seu clássico livro “A Pragmática da Comunicação Humana” citando Gregory Batenson dizia que se chutamos uma pedra ao caminhar, isso é transmissão de energia, mas se chutarmos um cão, isso é comunicação, em virtude da imprevisibilidade da resposta do outro e conclui: ‘Não é possível não se comunicar’, em se tratando de seres vivos. Todo o tempo estamos comunicando algo – mesmo com nosso silêncio.

A questão não é se comunicamos ou não, mas COMO comunicamos algo. Tenho atendido centenas de casais que tem demandas legítimas um em relação ao outro no casamento, mas que não sabem comunicar isso de forma funcional. Como a esposa que demanda carinho de seu marido (algo bom), mas que comunica isso em forma de cobranças (algo ruim), fazendo com que o marido sinta-se controlado (algo pior) e acabe afastando-se ainda mais da esposa (algo destruidor). Assim uma má comunicação transforma algo bom em algo destruidor para o relacionamento. Exemplificando: ‘O marido, ao sair do trabalho no final de expediente, encontra um amigo e fica conversando, não percebendo que as horas passam. A esposa, em casa, fica aflita com a demora do marido – porque espera que ele chegue para ter o carinho dele – liga para o celular do esposo e diz bruscamente: ‘Onde você está?’ O marido sente isso como uma cobrança e ao invés de informar o ocorrido, devolve um: ‘Já estou indo para casa’. Ela se ressente ainda mais e, quando ele chega em casa ela, que queria tanto o carinho dele, o recebe friamente, ou com afirmações genéricas tipo: ‘Ninguém deixa a esposa em casa sozinha para ficar pelos bares com os amigos, especialmente sabendo que ele precisa dele’. Já o esposo interpreta isso não como um pedido de acolhimento e carinho e sim como cobrança de participação nas tarefas e entra por outro atalho dizendo: ‘Eu já tenho muito trabalho e preocupações em meu emprego e tenho o direito de me divertir’. E assim o diálogo vai se deteriorando cad vez mais e se afastando de suas intenções originais que eram a demanda de carinho, atenção, afeto e cuidado com o outro. O COMO comunicamos é fundamental para o relacionamento.


O segundo cavaleiro do apocalipse nos relacionamentos é, sem dúvida, o desligamento da família de origem. Jay Halley diz que ‘não podemos estar casados com duas pessoas ao mesmo tempo’, referindo-se à idéia que, se não nos ‘divorciarmos’ plenamente de nossas famílias de origem e iniciarmos a construção de algo novo com nosso cônjuge, jamais nos sentiremos realizados nos nossos relacionamentos conjugais.


Muitas são as razões pelas quais as pessoas relutam em tornarem-se plenamente independentes dos pais ou da família de origem. Pode ser por insegurança, uma auto-estima debilitada, mas o mais comum é que pais tenham dificuldade de ‘soltarem’ seus filhos para estes desenvolverem uma nova família porque viveram toda a vida em função dos filhos e a saída destes pode ameaçar a relação do casal que, após 25, 30 anos de vida comum, se vêem como estranhos em relação ao outro – desenvolveram mundos independentes e apoiados na relação parental – não na conjugal.


Não penso aqui em casais que tem dificuldades de relacionamento com os progenitores de um ou de ambos os cônjuges, mas em famílias realmente fusionadas, que não conseguem estabelecer limites neste relacionamento com a família de origem e onde constantemente sofrem interferências dos pais, que continuam tratando os filhos como se fossem adolescentes.


O princípio milenar bíblico: deixar pai e mãe continua muito válido em nossos dias, confirmam os terapeutas familiares. Somente quando você pode deixar a família de origem e partir nesta maravilhosa aventura de construção de um relacionamento a dois, é que você pode colocar em prática toda sua criatividade (construir algo novo) e tornar-se co-participante no mandato cultural de “crescer” e multiplicar-se e tornar-se mais semelhante da imago dei, de um Deus criador e criativo.


O terceiro cavaleiro do Apocalipse nos relacionamentos é a infidelidade. Não somente a infidelidade sexual, embora esta seja, em geral, a mais destruidora de todas, mas também a infidelidade de compromisso de prioridade do relacionamento. Muitos não traem o cônjuge com uma outra pessoa, mas o traem priorizando ou dando mais importância a outras coisas em detrimento do relacionamento.


São situações expressas em termos populares como: ‘sou apaixonado pelo meu time de futebol’; ‘o meu trabalho vem antes de tudo’; ‘não sei porque ele(a) tem tantos ciúmes de meus amigos (meu hobby)’; ‘se eu não for à igreja e ficar no domingo com meu marido/esposa sinto que Deus vai me reprovar’…. Na verdade são todas expressões que ocultam uma só verdade: algo é mais importante que o relacionamento conjugal. Tecnicamente os terapeutas familiares denominam este elemento de ‘Preferida’ e o mesmo está na gênese de muitos rompimentos conjugais.


Algumas vezes a pessoa que tem a ‘Preferida’ não se dá conta que isso está deteriorando o relacionamento conjugal porque acredita que a ‘Preferida’ é algo bom. ‘Trabalho 12 horas por dia para proporcionar mais conforto e bem estar para minha família’, afirma o empresário. Ele nem se apercebe que agindo assim está priorizando o seu tempo para o emprego e sendo infiel com aqueles a quem ama e quer o melhor.


Quando a ‘Preferida’ é outra pessoa e a infidelidade deslizou para o campo sexual, é necessário se rever todo o relacionamento, pois se um dos cônjuges é capaz de buscar intimidade com alguém de fora é porque realmente algo na intimidade a dois (o mais profundo do relacional) não vai bem. Também será necessário o exercício do perdão – que é mais difícil para quem não vive uma relação com Deus e sentiu-se também perdoado um dia. Um excelente livro sobre o perdão é o do psiquiatra Fábio Damasceno.


Finalmente o quarto cavaleiro do Apocalipse é o individualismo. Este venerado ‘deus’ do nosso século, exaltado nos cultos à globalização, é talvez o mais destruidor de todos os quatro elementos relacionais. Cada vez mais se torna difícil a sociedade em geral e os relacionamentos em particular pensarem em termos de NÓS.


A ideologia dominante de mercado incentiva que cada pessoa deve buscar o que é bom para si, não se importando muito se isso vai agradar ou não o outro. Um princípio do neoliberalismo é que tudo é relativizado em função do indivíduo. O juízo moral se define em termos de prazer/desprazer individual (creio que este é um perverso desvirtuamento do princípio freudiano) e os princípios universais de direitos humanos estão cad vez mais sendo reduzidos ao conceito de ‘prazer biológico’. ‘Se seu cônjuge não te dá o ‘prazer’ sexual que você esperava dele(a), troque por um modelito mais competente, afinal você ‘merece’ realizar todas suas fantasias’.


Os relacionamentos tornaram-se descartáveis como os produtos e o compromisso passa a ser redefinido como contrato transitório enquanto as partes obtenham vantagens. Torna-se fácil trocar de cônjuge com as leis pró-divorcistas; difícil é investir e tentar buscar acordos que satisfaçam ambas as partes – o NÓS! Lembro, metaforicamente, das palavras de Jesus que dizem que fácil e largo é o caminho que conduz à perdição e difícil e estreito é o caminho que conduz à vida. Realmente é sempre mais difícil tentar e tentar e tentar de novo estabelecer algo bom com o cônjuge – bom para ambos! Mais fácil é: se o outro pensa diferente de mim, vou ‘encontrar’ alguém que me entenda! Pobre ilusão do mercado. O mercado quer pessoas que se comprometam só com ele mesmo. Que melhor para uma multinacional que o empregado jovem, solteiro e disponível, querendo crescer em sua carreira, que se dispõe a trabalhar 12 a 15 horas por dia e que nem tem ninguém em casa para reclamar e que possa vir a disputar este quinhão de dedicação. Ainda mais, sem um compromisso o jovem e ambicioso empregado pode ser remanejado a qualquer hora, para qualquer lugar do planeta. É prezado leitor, nosso sistema econômico conspira contra a família e por isso apóia o divórcio fácil, a liberação geral de toda e qualquer expressão sexual (já não se precisa nenhum compromisso para se ter sexo) e tudo que facilite o individualismo.


Ser adulto, solteiro(a), acima de 30 anos e bem posicionado profissionalmente é a aspiração da maioria dos adolescentes de hoje. Casamento é palavra estranha e ‘ficar’ é a palavra de ordem. Rüdiger Safranski, um filósofo alemão contemporâneo, autor de “O mal ou o drama da liberdade” nos alerta dos perigos de uma sociedade escravizada pelo mercado e que não estabelece regras morais para seu seguimento.


Certamente existem outros elementos que conspiram contra e destroem os relacionamentos, mas creio que estes quatro são os mais alarmantes. Necessitamos de ações preventivas e terapêuticas e, neste sentido, creio que a Igreja está em uma posição privilegiada, pois semanalmente pode instruir centenas de fiéis sobre princípios de um relacionamento saudáveis, gerando uma sociedade mais sólida e saudável, ao invés de discursos de uma espiritualidade desencarnada, individualista e servil ao ‘deus’ mercado.


Creio que não é por acaso que a Bíblia compara o relacionamento conjugal com a relação entre Cristo e sua Igreja. Ele quer se comunicar, íntima e profundamente com ela; Ele precisou ser abandonado pelo Pai para entregar-se e morrer por ela; Ele permanece fiel, mesmo quando ela se mostra infiel e ele quer formar com ela o novo céu e a nova terra para desfrutarem juntos de um lugar onde não há dor, nem pranto (Apocalipse 21:9)

Um comentário: