sábado, 14 de setembro de 2013

O CASAMENTO É A REAL APRENDIZAGEM DO AMOR

                                                                                          

                                                                                                               

                                                                                            Por Carlos Catito


Muitas pessoas, de dentro e de fora da igreja cristã, acreditam que, numa sociedade moderna em que se privilegia a liberdade de escolha e a busca por felicidade, qualquer argumentação contra o divórcio é, no mínimo  equivocada. 

Alguns intérpretes da Bíblia defendem que os textos bíblicos que apontam para uma objeção de Deus em relação ao divórcio são contextualmente equivocados e não servem mais para uma aplicação direta em nossos dias, tais como os textos que falam sobre restrições alimentares e similares. 

Quando eu era adolescente e congregava em uma igreja de origem alemã e com forte influência do movimento pietista, o divórcio era visto com uma conotação sexual equivalente ao adultério, ou seja, as pessoas que se divorciavam "queriam" experimentar novos parceiros sexuais, e isso era abominável! Portanto, naquele contexto o divórcio era visto como moralmente degradante - ponto de vista do qual também eu discordo, haja vista que tenho amigos pessoais cristãos divorciados há mais de quinze anos e que não buscaram novas companheiras, muitos menos um vida promíscua sexualmente simplesmente mantêm-se em abstinência. 

Então qual o real significado do divórcio que leva Deus a afirmar que o odeia (Mt. 2.13-16)? Ao longo de mais de trinta anos atendendo a casais em meu consultório, posso dizer que a essência de todo divórcio está na incapacidade de amar o diferente.

Quando iniciamos um relacionamento afetivo, acreditamos - de forma imatura - que temos com o outro uma sintonia tão próxima que mesmo os pequenos sinais de diferenças não nos incomodam, se considerarmos os enormes sinais de concordâncias. A proximidade de convivência e a rotina escancaram o quanto estávamos equivocados. O outro é, sim, muito diferente de mim em muitos aspectos: ritmo, tempo, estilo de vida, projetos, gostos, interação social, etc.

Então caímos na ilusão de que com um pouco de esforço conseguiremos mudar o outro e "torná-lo à minha imagem e semelhança": afinal, se pensarmos de forma mais sintônica, tudo vai ficar maravilhoso. Então passamos a ser educadores do outro, que teimosamente mostra-se um aprendiz ineficaz e não muda. A frustração pela não mudança aumenta, gerando irritação, e os "padrões educacionais" tornam-se mais violentos. As solicitações transformam-se em gritos, que levam a ressentimento.

Tudo isso colabora para que a imatura sensação inicial de que haveria uma sintonia total se dilua e passamos a acreditar que não somos mais compatíveis - precisamos buscar outra pessoa mais compatível para não arrastarmos ao longo da vida um relacionamento que nos fará infelizes. Aí surge o divórcio.

Não é esse caso uma metáfora de nosso relacionamento com Deus? Ele querendo nos ensinar a ser cada vez mais à sua imagem e semelhança e nós obstinadamente seguindo com nossas "verdades"? Todavia, Deus jamais desiste de nós, nem se altera quando não lhe damos ouvidos. Em última instância, o casamento é a real aprendizagem do amor e, quando nos negamos a esta aprendizagem, nos afastamos do Deus que é amor. É isso o que ele odeia!

Deus não quer que transformemos o outro à nossa imagem e semelhança, mas que encontremos no outro a imagem de Deus, que é multifacetada e que, por isso, torna a humanidade tão rica em sua diversidade. Esse caminho é estreito e poucos são os que trilham por ele. 

                            

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