sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

ÁRVORE DA VIDA, O FILME


sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

                                                                                                         Por Edna Palladino
Árvore da vida: a conjugalidade pode se reorientar

O filme "Árvore da vida" é de bom tom, como um bem para a humanidade. Assisti-lo é de tirar o fôlego! Há uma relação com a transcendência e uma  consciência da relação disfuncional que não se vê tão facilmente nas produções de Hollywood. Talvez pelo fato da nossa cultura curtir outro tipo de dramaturgia, que com certeza não esbarra na categoria das relações famíliares afetivas mais complexas.  

No elenco nada menos que o belo Brad Pitt, incorporando o personagem de um pai vivendo a fase da família com filhos pequenos com idade escolar e outro entrando na adolescencia. A sedução do ator tão comercializada, deu lugar ao que é mais importante – as relações humanas, principalmente aquelas desenvolvidas no desgaste da violência doméstica que faz do cotidiano um tormento. 

O filme mostra como a relação conugal pode ser extremamente angustiante para todos na família, quando um dos conjuges (o pai), não tem consciência de sua própria sombra e não faz leitura de si. As carências afetivas (da mãe), trazidas da família de origem, que constróem expectativas  de preenchimento desse vazio buscado no marido. A identidade dessa conjugalidade é então colocada "goela abaixo" como um "vir a ser" na formação dos filhos -,  como um padrão que se repete.  Não sem as devidas conseqüências que são as fortes turbulências no dia a dia dessa família.

Olhando para ele, o pai: uma mistura de pai severo com pai amoroso, horrível para a qualidade de afeto que os filhos vão  atribuir: temos amor ou ódio? A mesma mão que ora afaga, espanca... A mesma voz que soa delicada, de repente grita ou corrige com ira... Então, que pai é esse? ... O menino vai crescendo sem saber responder... Confuso entra nas casas dos outros, se rebela contra a mãe, tem pequenos atos sádicos com o irmão mais novo. Adolescente aborrecente... ou confuso?

Olhando para ela, a mãe: ocupa lugar de sofredora, prefere viver timidamente e ocupa o lugar que a sociedade, ainda hoje, gosta de impor à mulher: alguém de alma frágil e quebradiça. Depois de episódios de muita hostilidade e violência por parte do marido, ela dança com os filhos pela casa, solta, alegre - naquele momento está com as rédeas do coração nas mãos. Ela dança como se estivesse celebrando a maternidade, sua prole lhe soa como uma valsa naquele momento, mas só acontece porque o vilão (marido), não está, tinha viajado. Uma alegria que tem tempo de validade, pois depende unicamente do ambiente externo para ser experimentada. Sua tristeza sempre retorna e a faz cansada e amarga. Próprio da mulher que não consegue se encontram a não ser a partir do marido. 

Uma grande beleza na trama... Ele (o pai), no final, reorienta sua vida, torna-se alguém que se reconhece em suas idiossincrasias e muda, que coisa grande, mudar!  

Interessante... Ela (a mãe), no final, se deixa enrijecer com a dor de um luto que não passa, não percebe que a vida roda e não temos controle algum sobre isso. No entanto, podemos sobreviver a tudo e sermos abraçados pela certeza de que o passado é nossa história e experiência vivida –, é nossa identidade com a qual construimos nosso presente e delineamos nosso futuro.